Sete Vidas

        Em casa era assim, o pai era bravo e a mãe boazinha. O pai queria cachorro na casa, mas só que tinha de ser no quintal, senão ralhava e batia com chinelo de borracha.
        O pai não gostava de gato, então judiava quando conseguia pegar um. A vizinha criava uns vinte gatos que volta e meia entrava dentro da casa. O pai ralhava, corria atrás do gato com a bengala de bambu e o gato, muito do esperto, fugia.
        A Dona Íris, coitada... já tão velhinha, nem sabia que o pai descia a bengala nos gatos dela, logo eles adoeciam e iam morrer lá em casa. Um dia um foi morrer dentro do cesto de vime onde a mãe punha as roupas limpas para passar no ferro. Dona Íris nem soube, coitada...
        A mãe pegou o gato morto, jogou no lixo e pôs a roupa para lavar de novo.
        Uma noite o pai estava sentado na poltrona vermelha da sala lendo o jornalzinho do budismo e ouviu um barulho que vinha lá do porão. O pai levantou dando um pulo, agarrou a bengala de bambu encostada na quina da parede da sala e desceu correndo pelas escadas, fechando a porta logo atrás.
        O pai estava bravo! Subiu as escadas com o gato dependurado pelo couro do pescoço, era todo preto... A mãe sempre falava que gato preto dava o maior azar, acho que hoje ele estava mesmo com azar!
        - Ana Lúcia, Cássia e Jane, venham aqui agora! - o pai chamou da porta da cozinha para mostrar que ia enforcar o gato com um cadarço que ele tirou da botina preta que usava para trabalhar na fábrica e fazê-la de forca.
        O cadarço estava amarrado no pescoço de uma ponta, da outra, amarrado na bengala de bambu do pai. Quando ele levantou a bengala o gato começou a perder o fôlego, esticava as patinhas dianteiras buscando alguma coisa para se agarrar e tentar fugir, o pai ficava em silêncio, a mãe pedia pra ele parar e deixar nós irmos para o quarto, mas o pai era bravo, dizia que tínhamos de ver. - Tá bom, pai, tá bom... ele já morreu! - disse minha maninha, mas o pai dizia que gato tem sete vidas e ainda faltava perder as outras seis...
Local: Jabaquara, São Paulo, República Federativa do Brasil

Comentários

  1. Unknown6 de julho de 2018 às 17:38

    Nossa que maldade eu gosto muito de gatos e quando vejo alguem maltratando um mando a pessoa parar e ainda ameaço de chamar a policia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cassia Namekata1 de agosto de 2018 às 20:36

      Você tem razão. Também gosto muito de animais, mas naquela época a polícia não atendia essas denúncias como hoje. Estamos evoluindo!

      Excluir

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