Paulo
Atenção, leitores.
O texto a seguir, seria apenas um comentário breve de troca de mensagens via "whatsapp", mas devido ao tamanho, acabou se transformando numa de minhas crônicas.
Me confundi em alguns trechos, que você, leitor ou leitora, vai notar pelo esforço que faço na tentativa de lembrar mais fielmente de algum detalhe que seja importante, pois são memórias recuperadas pela mentalidade de outra pessoa.
Além disso, tentei suavizar certas incoerências no que se refere ao tempo presente e passado, mas que, ainda são visões nebulosas para afirmar com exatidão. Peço encarecidamente, que seja compreensivo ou compreensiva.
Sinceramente, essa lembrança não está clara o suficiente nas minhas memórias. Por isso peço desculpas se acaso parecer-lhe um pouco confusa.
É sim uma história de amor, por mais que eu hesite em admitir tal breguice.
E possui um final feliz em meio a tantos outros finais felizes infinitos nesta mesma história.
Então, vamos lá.
Eu, por volta de 17 ou 18 anos, conheci um rapaz muito bacana, o Paulo.
Não me lembrava do nome ou como e nem onde exatamente o conheci, mas tenho uma vaga lembrança de que foi num daqueles shows no Vale do Anhangabaú e que era da banda Ultraje à Rigor ou se foi ali na Rua Santo Antônio, em frente ao (não mais existente) Chopp Haus, no bairro do Bixiga, acho que este último seja mais possível.
Eu e Paulo ficamos muito amigos e, além de trocas de afeto, trocamos muitas correspondências via Correios, pois não possuíamos telefone na época.
Escrevíamos poemas no mesmo estilo melancólico. Foi algo que nos identificamos, além do mesmo gosto musical. Não havia declarações de amor nestas correspondências, apenas os poemas e comentários de nossas vivências. Apesar de, eu estar secretamente apaixonada por aquele poeta.
Paulo sempre se descrevia como um "palhaço triste", me lembro que foi a primeira vez que ouvi essa expressão.
Marcávamos encontro por carta. Ele morava no bairro da Casa Verde, Zona Norte de São Paulo e a carta demorava uns 2 dias para chegar, ou seja, se tivéssemos algum plano de sair na sexta ou sábado, tínhamos de escrever logo no início da semana para que desse tempo do outro ler.
Combinávamos horários aproximados, locais hipotéticos, pois poderia ser que estaríamos, tanto em um local, como em outro, dependendo das circunstâncias. As roupas também eram descritas nas cartas: "camiseta preta de tal banda"...
Se não me falha a memória, trocávamos ligações por meio do telefone do meu trabalho. Mas não tenho certeza.
Paulo trazia sempre seu amigo, o Padilha. Paulo com 1.80m e Padilha 1.63m. Eu achava graça na diferença de estatura deles.
Saíamos nós três para os bares, shows e eventos.
Mas até chegar um dia...
Paulo se distanciou. Não lembro ao certo o motivo. Se eu havia me distanciado ou ele. Acho que teria de servir o exército talvez... e nunca mais recebi suas cartas ou nos vimos. Nem mesmo alguma aparição de Padilha, seu fiel escudeiro.
Fiquei bem triste por um bom tempo, pois percebi um sentimento tão intenso como o amor.
Creio eu, que minha mente, numa forma de defesa, enterrou essa parte da vida numa cova bem funda das minhas memórias para que continuasse meu caminho e superar essa perda.
Passou-se longos 30 e poucos anos e nem cheiro dessa memória.
Nem mesmo quando a gente se pega lembrando dos momentos bons do passado. Vocês sabem do que estou falando...
Tantas coisas se passaram...
Me casei algumas vezes e, da última, me separei de uma união de 14 anos. Sofri, mas aprendi a valorizar a solitude, amadureci tanto...
Me cadastrei numa rede social, a qual está ficando obsoleta devido a tantas outras mais modernas.
Cadastrei-me com meu primeiro e último nomes, ocultava sempre o "Yukiko", pois é muito complicado nome japonês para as pessoas entenderem.
Em novembro de 2019 recebi uma mensagem particular por este aplicativo.
Era de um tal "David Robert", sua foto de perfil era do cientista Albert Einstein. amigos em comum. Achei muito estranho...
A mensagem dizia mais ou menos isso:
"Você é a Cássia Yukiko Namekata?"
No mesmo momento pensei: "Que estranho... Quem será essa pessoa para saber meu nome do meio do qual nunca divulgo?"
Me aborreci, achando que era algum golpista. Perguntei de onde me conhecia.
Disse que era o "Paulo".
Mas eu não conhecia nenhum Paulo, eu havia coberto ele de terra na cova funda das minhas memórias.
Pensei em bloquear essa pessoa intrometida, mas o que me deixou com a pulga atrás da orelha foi o "Yukiko"... Então quis saber mais.
Aos poucos ele foi refrescando minha memória.
Me contou onde a íamos juntos. Eu me lembrava dos lugares, mas não me lembrava dele.
Contou das cartas que trocávamos, das poesias melancólicas...
Me esforcei um pouco mas não lembrei dessas cartas...
Então ele tirou foto do envelope.
No remetente, minha letra e sempre o nome de uma das bandas musicais que eu gostava no lugar do remetente.
Ele as guardou por muitos anos...
Assim acreditei no que ele estava falando. Mas, incrivelmente, não sei se lembro ou se imagino que lembro.
Passamos a conversar pelo whatsapp, abrir câmera e falar das nossas vidas.
Eu morava ainda bem distante, em Mato Grosso do Sul e Paulo, na cidade de São Paulo. De ônibus, cerca de 16 horas.
Ainda era um pouco dificultoso para nos revermos pessoalmente.
Assim, mais um ano se passou e muitos acontecimentos me levaram a tomar uma nova decisão: ir para o Japão rever minha irmã e sua família, que estão distantes há muitos anos e também minha filha, que temos pouco tempo de convivência e necessito estar mais próxima das minhas raízes de sangue.
Há alguns dias, desfiz de meus pertences, aluguei a casa e vim para São Paulo (de onde sou original) dar entrada no visto japonês e, posteriormente, comprar a passagem.
Estou revendo pessoas muito importantes que me avivaram e também meu amigo Paulo.
Depois de cerca de 30 anos, revi meu amigo/amor.
Conheci seus pais, suas duas filhas e sua neta recém nascida, sua gata, seus cachorros e seus companheiros: vodka e sofá
Paulo tinha aproximadamente 24 anos quando o vi pela primeira vez e hoje está com 52.
Ví também as cartas que escrevi e as lí em minhas mãos, como algo inédito, como uma viagem no tempo, que me fez entrar em contato com meu eu de muitos anos.
Reconheci os sentimentos e inspirações que produziram aquelas combinações de palavras. Foi realmente incrível.
Paulo, com seus cabelos grisalhos, na maioria brancos, apesar de ter uma garrafa de vodka como companheira, ainda lindo e muito sorridente, me acolheu com o melhor que tem de si.
Tem me acompanhado durante as andanças na capital paulistana e trazendo muitas risadas para darmos juntos.
Resgatamos momentos esquecidos e consolidamos o que temos de melhor em nós.
Removi toda a terra sobre ele e o tirei da cova, mesmo não me lembrando. Reinventei as memórias que Paulo conservou, mesmo com alguma dificuldade de trazer alguns detalhes, reinventamo-os.
Padilha, infelizmente, não consegui rever ainda.
E, mesmo tendo que partir para longe do meu Paulinho, tenho uma forte certeza que nossa história está apenas no começo.
Minhas palavras terminam por aqui e, com muita gratidão por você ler até o final.
Legal contou um pedacinho da nossa história...
ResponderExcluir💗💗💗
ExcluirNo55a história 3sta @p3nas no com3ço ...
ResponderExcluir❤️❤️❤️
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