UMA OUTRA HISTÓRIA...

         Estou de volta!         Cheguei hoje cedo, embrulhada em uma manta bem quente, que adquiri de uma das rainhas do Reino da Felicidade, ela é tão linda, tanto a rainha quanto a manta. Estava tão frio... O vento era gelado e a chuva que caía tratava de roxear a minha boca, que tremelicava os dentes sem controle.         Cheguei com passos largos e coração já queimando de emoção e vendo todo o jardim de casa florescer com a minha chegada, pude também sentir o cheirinho de café feito na hora e o pão quente da mãe, que saía do forno e derretia a manteiga.          O portão já destrancado, há muito me esperando, eu pude empurrar com as minhas mãos e senti-lo como sempre o foi. O chão já com outro piso mais bonito, mas o mesmo chão de antes, pude pisa-lo com meus pés calejados e doloridos da minha longa viagem. ...

        Nos dias em que a fome e a vontade de comer eram senhoras de nossas vidas cinzentas, sentíamos felicidade se houvesse um gole de leite e um punhado de açúcar. Eram esses os nossos mais profundos desejos naqueles dias de miséria que entranharam em nossas almas e deixou-nos insanas até o momento de agora.         Era hábito ficarmos sem companhia adulta, com seis e sete anos que tínhamos, éramos as mais donas da casa por quase todo o dia e parte da noite. Pai e mãe no trabalho, submetidos a esse sacrifício para pagar as contas e comprar algum alimento que matasse nossa fome insaciável.         Mas, veja você... a vontade de comer com a fome de um molequinho é muito pior que só a fome de um adulto. O adulto percebe que seu estômago está vazio, que necessita de alimento para viver, mas o molequinho não. Ele sente fome e vontade de comer ao mesmo tempo, e nã...